Wednesday, September 24, 2008

Amigos

Meu melhor amigo brasileiro aqui no Canadá recebeu a visita dos pais, e um dos últimos conselhos antes de voltarem foi: "Tome cuidado com os brasileiros que moram fora do país". Curioso como é a visão em relação ao nosso próprio povo...

Infelizmente, em muitos casos não posso discordar completamente dela. O fato de ser brasileiro em muitos casos não é o bastante para as pessoas se darem bem. Sim, todos somos imigrantes, mas de lugares, formação e opiniões diferentes.

Já comentei como em uma comunidade pequena as qualidades e os defeitos se intensificam. Muitos têm a necessidade de afirmar o tempo todo "como se deram bem" no Canadá, e como estão melhor adaptados que seus conterrâneos. Outros só falam com brasileiros que estão no Canadá há mais de "x" anos, pois consideram os "novatos" fogo de palha, não foram "pioneiros" como eles foram. A imigração mexe muito com o lado psicológico, e o sentimento de solidão, desajuste à nova sociedade, insatisfações e necessidade de afirmação são facilmente observados em algumas pessoas, principalmente naquelas em que o perfil psicológico não é favorável à mudanças e à imigração.

Principalmente no início, é muito mais fácil e cômodo se relacionar com brasileiros. Mas esteja aberto, e se esforce para fazer amigos de qualquer origem. Além de enriquecer seu convívio e sua cultura, em muitos casos você vai fazer amigos mais sinceros e dispostos a ajudar do que os próprios brasileiros. Tivemos a sorte de conhecer um casal brasileiro que têm tudo a ver conosco, e hoje faz parte da nossa família canadense, além de pelo menos duas famílias brasileiras a quem podemos chamar realmente de amigos. Mas muitos mal-entendidos, fofocas, antipatias até, passaram (e passam) por nós, dentro da "colônia" brasileira. São todos "do mal"? Não, absolutamente. Mas as pessoas são diferentes, e cada um reage de forma diferente à imigração, às dificuldades e às conquistas. Não se sinta obrigado a se dar bem com todos. A cultura brasileira é mais aberta, e amistosa? Sim, mas também é mais "falsa", onde você cumprimenta alguém em uma festa, conversa, e quando a pessoa vira as costas, as duas partes saem criticando a outra. Neste ponto, estamos aprendendo um pouco com os canadenses. Sim, são diferentes nas relações sociais (às vezes é visto como frieza), mas são mais sinceros também.

Meus pais imigraram da China para o Brasil há mais de 50 anos, e sempre achei curioso como eles e os amigos chineses se relacionavam. Hoje, entendo perfeitamente.

Saturday, August 30, 2008

De volta do Brasil

Acabamos de voltar de São Paulo. Minha esposa e filhas ficaram um mês, e eu só consegui ficar uma semana, pois tive uma reunião com clientes no México e tive que reduzir minhas férias.

É bem estranho voltar e não ter mais casa, carro e se sentir um hóspede. Foi bom encontrar a família e amigos, e matar a saudade de churrasco, coxinha, jaboticada e figo, rsrsrs... mas tenho que admitir que foi bom chegar na imigração canadense e ouvir "welcome back home". São Paulo tem muita coisa boa sim, mas o custo de vida (proporcionalmente à renda) e os problemas (crime, trânsito, infraestrutura) tiram o prazer de se viver lá. Depois de um ano em Vancouver, a gente vê claramente como em SP a renda é mal distribuída, e como o stress toma conta da gente no trânsito e nas relações pessoais e profissionais, e como a corrupção e o desrespeito dos políticos com a sociedade afetam o futuro do Brasil e dos brasileiros.

Minha maior preocupação era minhas filhas, por terem passado um mês com os avós, imaginava que elas não iriam querer voltar. Que nada. Claro que ficaram tristes, mas em nenhum momento hesitaram em voltar. Pelo contrário, senti que estavam mesmo com saudades da nossa casa, do quarto delas e da nossa vida em Vancouver. Assim que subiram no avião, voltaram a conversar em inglês... Com a vinda para o Canadá, nossa família ficou muito mais unida. Só isso já valeu o esforço de ter imigrado.

É bom estar de volta. Sim, sentimos saudade da família e dos amigos no Brasil, mas também dos novos amigos que fizemos no Canadá e da nossa vida aqui. Acho que estamos começando nosso processo de imigração... :)

Monday, August 11, 2008

Pensamento III

"It's not about the destination - it's about the experiences along the way"

Ouvi esta em um comercial de amaciante de roupas, rsrsrs... mas reflete bem minha opinião sobre a vida.
Save as Draft

Sunday, August 10, 2008

1 Ano!

Faz tempo que não escrevo, e achei que este era um bom motivo para atualizar o blog.

Chegamos aqui há mais de um ano, e tudo passou muito rápido. Hoje minha esposa e filhas estão no Brasil, visitando a família. Eu vou em duas semanas, para acompanhar a cirurgia do meu pai. Nada sério, mas sempre é uma cirurgia.

A gente se acostumou com a realidade do Canadá bem rápido, e falando com minha esposa, dá pra perceber como nossa vida mudou. Vivemos infinitamente menos estressados, temos mais lazer. Trabalho relativamente menos tempo que no Brasil (mas também tenho que ser mais eficiente), e a sensação que temos é que não estamos sacrificando o presente em função de um futuro incerto. Sim, temos planos, e estamos trabalhando para que ele se torne realidade. Mas não deixamos de aproveitar o presente, a infância de nossas filhas, momentos que não voltam mais.

Minha esposa tem comentado como as coisas no Brasil estão caras, como o trânsito, as pessoas, a poluição e a violência afetam a forma como vivemos. Ela fica triste por não ter vontade de voltar mais ao Brasil, e pelo fato da família ainda sofrer com tudo isso. Claro que sentimos falta de muita coisa, dos amigos, da familiaridade que temos na cidade onde nascemos e crescemos. Mas principalmente depois das meninas, olhamos mais para o futuro do que para o passado.

O Canadá é perfeito? Claro que não. Tem crime, tem drogas, tem preconceito, tem intolerância. Como em qualquer lugar no mundo. Mas em um nível infinitamente menor, e a sociedade não vive em função destes problemas. A qualidade de vida ainda é algo real, que muita gente vive diariamente.

Já estamos adaptados? Eu acho que a gente mal começou. Um ano é muito pouco. Mas para quem imigra, é uma conquista. O primeiro ano é de adaptação, de descobertas, a gente aprende a viver e pensar diferente. Ainda me pego cruzando a ponte de downtown a caminho de casa, olhando para o mar e para as montanhas, e agradecendo a oportunidade de estar aqui.

Não podemos reclamar do "nosso" Canadá. Cada história de imigração é diferente, e cada pessoa responde de forma diferente à mudança. Ainda temos um longo caminho até nos sentirmos adaptados, com o círculo pessoal e profissional refeito, e à vontade com os costumes, com a língua.

Imigrar é competir com você mesmo, todos os dias. Conseguimos passar o primeiro obstáculo desta corrida que não tem final, e é recompensador. Que venha o próximo ano!

Thursday, June 26, 2008

Pensamento II

Imigrar é ter a oportunidade de viver duas vidas no espaço de uma. Ou duas meias-vidas, dependendo de como você a encara (o copo está meio cheio ou meio vazio?).

Vencedores e perdedores

Vejo com freqüência estes termos nas listas de discussão, como se imigrar fosse um processo com prazo de encerramento. Acho muito ruim esta simplificação, como se fosse possível categorizar as pessoas como "winners" ou "losers"... isso existe muito nos Estados Unidos, e eu pessoalmente acho patético, pois geralmente só o aspecto financeiro é considerado. A vida é muito mais do que isso (não que dinheiro não seja importante, sou o primeiro a dizer).

Sempre seremos imigrantes. Minhas filhas não, elas estão sendo educadas e criadas aqui, suas raízes estão começando a crescer no Canadá. As nossas estão no Brasil, só recebemos um enxerto para dar frutos melhores :)

Saturday, May 17, 2008

English Bay


Ontem fez inacreditáveis 26º! Pelo menos de acordo com a meteorologia, no nosso carro o máximo que vimos chegar foi 23º... mas já foi o bastante para as praias já ficarem cheias, e todo mundo tirar dos armários o guarda roupa de verão! Na foto não parece, mas estava um sol bem gostoso e tinha muita gente andando.

Update (15/08): Neste verão, já tivemos dias com 32, 33 graus. Os dias estão lindos, e estamos aproveitando muito :)

Monday, May 5, 2008

The biggest decision of all

Recebi este texto do Paulo Magalhães, na lista de discussão do Yahoo, e tomei a liberdade de reproduzi-lo, achei bem bacana.

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If someone asked you to list life's biggest decisions, what would you say? If you're like most people, you'd probably start with two things.
The first, I call the "what factor." Most of us will say that one of the key decisions in life is figuring out what you want to do for your career. Even if money can't buy happiness, many people believe that doing work you love is likely to give you a prosperous and fulfilling life. My father drilled that notion into me.
Others, meanwhile, will argue that while jobs, money, and schooling are surely important, the most critical decision in life is picking the right life partner—someone who will support you in all your endeavors and love you unconditionally along the way. Those who study human psychology agree: Loving relationships, their studies find, are key to a happy life.1 My mother knew this intuitively.

Without question, both of those decisions—the what and the who—mean a great deal to our lives. But there is another decision that has an equal, if not greater, effect on our economic future, happiness, and overall life outcome. The question of where.

Maybe this seems so obvious that people overlook it. Finding the right place is as important as—if not more important than— finding the right job or partner because it not only influences those choices but also determines how easy or hard it will be to correct mistakes made along the way. Still, few of us actually look at a place that way. Perhaps it's because so few of us have the understanding or mental framework necessary to make informed choices about our location.

The place we choose to live affects every aspect of our being. It can determine the income we earn, the people we meet, the friends we make, the partners we choose, and the options available to our
hildren and families. People are not equally happy everywhere, and some places do a better job of providing a high quality of life than others. Some places offer us more vibrant labor markets, better career prospects, higher real estate appreciation, and stronger investment and earnings opportunities. Some places offer more promising mating markets. Others are better environments for raising children.

Place also affects how happy we are in other, less palpable ways. It can be an island of stability in a sea of uncertainty and risk. Jobs end. Relationships break up. Choosing the right place can be a hedge against life's downsides. I hate to dwell on the negative, but you need to think about this. It's always terrible to lose a job, even worse to suffer a breakup with a significant other. As bad as those are, however, they are substantially worse if you also happen to live somewhere with few options in the job market or the mating market. It's exponentially easier to get back on your feet when your location has a vibrant economy with lots of jobs to choose from, or a lot of eligible single people in your age range to date.

The point is, where we live is a central life factor that affects all the others—work, education, and love—follow. It can make or break existing work arrangements and personal relationships. It can open new doors. And regardless of what kind of life we envision for ourselves—whether we aspire to make millions, have a family, or live the way of a bachelor—choosing where to live is a decision we all must make at least once. The stakes are high, and yet, when faced with the decision of where to call home, most of us are not prepared to make the right choice. If you ask most people how they got to the place they live now, they'll say they just ended up there. They stayed close to family or friends, they got a job there, or more commonly, they followed an old flame. Some don't even see that there's a choice to be made at all.

The key is to find a place that fits you—one that makes you happy and enables you to achieve your life goals.

Thursday, April 17, 2008

Questionário

Recebi este questionário no grupo "Canada Immigration Brasil" e achei bastante interessante, então repito minhas respostas aqui. Espero que seja de ajuda para quem está se planejando! Se quiserem ver as outras respostas, é só se cadastrar no grupo e procurar no histórico de mensagens.


Qual foi a primeira cidade que morou quando chegou?
Vancouver. Já tínhamos visitado Toronto, Montreal e Quebec dois anos antes, mas algumas particularidades de Vancouver (clima, estilo de vida, domínio apenas do inglês, e contatos profissionais) nos levaram a vir para cá, mesmo sem conhecer pessoalmente.

Fez workshops quando chegou?
Não. Cheguei a ir a um centro de assistência aos imigrantes, mas a ajuda que eles dão é extremamente limitada, adequada aos imigrantes que mal falam inglês, e precisam de ajuda para fazer um CV... se você passou no processo, dificilmente vai encontrar coisa nova lá. O pessoal ouve "centro de assistência ao imigrante" no Brasil e acha que eles vão te encaminhar a vaga... mas não é nada disso. O mercado não tem nenhum vínculo com o governo.

Quanto tempo demorou para arrumar emprego?
Encontrei emprego no terceiro mês, mas só comecei a mandar CVs no final do segundo. Antes, fui resolver apartamento, carro e documentação, e fui buscar minha família na Flórida (levamos as minhas filhas na Disney, para elas se animarem com a mudança).

Esse emprego foi na área? Que área?
Sim, publicidade. Tive sorte de conseguir o mesmo cargo que tinha no Brasil (diretor de criação). A maior preocupação era quanto ao meu inglês, que estava meio enferrujado. Mas em pouco tempo isso foi superado.

Se for casado, quanto tempo o acompanhante demorou para arrumar emprego?
Ainda não conseguiu, está estudando inglês para a revalidação do diploma (odonto).

Qual era o nível de inglês do acompanhante? Tinha daycare ligado ao curso de inglês?
Básico. Conseguimos um daycare (não é fácil, há uma espera grande em alguns lugares), mas não era ligado ao inglês. Por causa disso ela não conseguiu fazer aulas full time, somente de manhã.

Aplicante principal ou acompanhante precisou reconhecer diploma?
Não, design não é regulamentado em BC.

Onde ficou hospedado na primeira semana? Qual foi o custo?
Fiquei no Shaughnessy Village, barato e beeem pequeno, mas foi mais barato do que alugar direto um apartamento para toda a família, e deu tempo para pesquisar bem os bairros. Fiquei lá por 3 semanas, e paguei uns $700 - 800 (podia ficar um mês), com 10 breakfasts inclusos.

Quanto foi o primeiro aluguel?
Caro... na região que escolhemos (por causa do school district) a grande maioria são casas, então ou íamos para um basement (o que eu não queria logo de início, a não ser que não encontrasse mais nada), ou procurávamos pelos poucos apartamentos. Acabei encontrando um dentro da área residencial da UBC, que é onde estamos. Na região, um basement sai entre $1000 - 1500 (2 quartos) e um apartamento, $1300 - 2300. Dá para encontrar coisa mais barata se for para uma área mais distante, como Burnaby ou Richmond.

Descreva como era o primeiro apartamento ( quantos quartos, banheiro, o que tinha incluído no preço, endereço, basement? )
Apartamento de 2 quartos/1 banheiro. Gás da lareira, água quente inclusos.

Quais os primeiros itens que comprou para colocar no apartamento?
Colchão. Depois, quando a família chegou, fomos escolher a mesa de jantar, camas (as meninas sempre sonharam com um beliche), sofá, e coisas de cozinha. A maioria foi na Ikea, a meca dos imigrantes, rsrsrs... Nossa TV compramos usada, em um anúncio no Craigslist.

Quanto levou de dinheiro?
Em torno de CD$30k.

Quanto gastou no primeiro mês?
Fácil uns CD$15k. Mas uma das razões foi ter comprado um carro, só entre entrada, depósito de segurança (que é devolvido no final do leasing) e seguro, já morreu uns CD$7k.

Precisou gastar toda a economia antes de arrumar emprego?
Não, mas cheguei perto, já estava ficando neurótico em gastar $10 que fosse...

Tirou carteira de motorista?
Sim, no terceiro mês.

Quanto tempo demorou para arrumar um family doctor?
Não muito, conseguimos uma indicação de amigos e foi bem fácil. E achamos muito bons os diagnósticos, parece ser muito competente.

Nota de 0 - 10 sobre o sistema de saúde.
Até agora, para nós foi 9. Usamos o sistema umas 5 vezes já.

Se tem filhos, quanto tempo demorou para aprender lingua?
Em 6 meses elas estavam se comunicando razoavelmente bem.

Como foi a adaptação à escola?
O início foi meio complicado. Mesmo tendo freqüentado escola bilingüe no Brasil, elas não falavam inglês. No primeiro mês, muitas crises, não queriam ir à escola, mas foi melhorando. Hoje, 11 meses mais tarde, já estamos nos preocupando em traduzir as palavras que elas aprendem em inglês, para que elas continuem aprendendo português.

Seguiu totalmente o planejamento que havia feito quando ainda estava no Brasil?
De certa forma, sim. Não dá para planejar o que vai acontecer em um país que você mal conhece a cultura e o mercado. O mais importante é se preparar da melhor forma possível, pesquisando o mercado, melhorando a fluência no inglês ou francês, conseguir credenciais como certificações (para o pessoal de TI), fazer um portfólio bacana online, saber se sua profissão exige ou não revalidação. Conseguir juntar a maior quantidade de fundos possível, para não ter que pegar o primeiro emprego que aparecer, pois desmotiva muito.

Wednesday, April 16, 2008

Praia de Kitsilano

Pro blog não ficar chato, só com texto, aqui vai uma foto de Kits Beach no verão passado, logo quando chegamos. Já faz quase um ano...

Pensamento

Para os imigrantes, os dias bons são melhores, mas os dias ruins também são piores. O segredo é ter mais dias bons :)

Thursday, March 27, 2008

O "Canadá"

Vejo muita gente se referindo ao "Canadá" como se fosse um país homogêneo. Não é. Se existem grandes diferenças regionais no Brasil, no Canadá elas são até maiores, aqui coexistem duas culturas diferentes, que em sua origem foram inimigas. Estas diferenças vão muito além da língua.

Existem vantagens e desvantagens nos dois lados. Mas o que deve reger a escolha da região é a compatibilidade com a cultura e com a língua. Apesar de ter estudado algum francês no colégio, nunca me vi falando francês, e sei que teria grandes dificuldades em me recolocar até dominar a língua.

Há uma grande diferença na qualidade dos serviços oferecidos pelo governo também. Pelo que leio, a saúde do lado francês (Quebec, principalmente) está em muito pior situação. Aqui em Vancouver, utilizamos o serviço de saúde e sempre foi muito bom. Não há grandes esperas e o médico dá a atenção necessária, logicamente não existe o paparico do Brasil, mas o serviço é bem executado. Em contrapartida, li que em Quebec há uma preocupação maior com os daycares, coisa rara e cara aqui em Vancouver.

A situação econômica de cada província também é um fator importante. Hoje, Alberta é uma das que mais crescem, em função das "oil sands". Sorte de quem exerce alguma profissão relacionada à mineração, e suporta bem o frio.

Uma curiosidade que ninguém diz, mas está bem explícita: os Quebecois são vistos como os nossos argentinos, um povo que se considera europeu, mas que os franceses vêem como estrangeiros. O plebiscito sobre a separação é reflexo disso, e no dia a dia, até na lista de discussão do Yahoo me deparo com alguns posts "orgulhosos" por não considerarem o lado inglês do Canadá. O engraçado é que hoje Quebec é a província que mais recebe ajuda do governo federal, e este dinheiro vêm do oeste... enfim, só para ilustrar as dualidades deste país.

Não recomendo nenhum dos lados. Cada um tem suas compatibilidades e perfis próprios. O ideal é poder visitar e conhecer as cidades antes de imigrar, o que nem todos conseguem. Então, é importante o autoconhecimento e a avaliação das perspectivas pessoais e profissionais em cada província.

Pela minha experiência, vejo que existem diferenças significativas entre quem vai pelo processo de Quebec e pelo federal, mas este assunto é meio polêmico e longo, então deixo para outro post.

Planejamento e preparo

Aproveitando a recente discussão na lista de imigração do Yahoo, exponho aqui minha visão sobre o assunto.

É lugar comum dizer que é preciso planejamento, disciplina e persistência para "dar certo" no Canadá. Sim, tudo isso é importante, mas a verdade é que não existe receita nem garantia de nada. Por melhor que seja o planejamento, é difícil saber como as coisas funcionam até chegar aqui e realmente conviver com o mercado. Algumas coisas são surpreendentemente similares ao Brasil, outras, completamente diferentes.

O básico:
  • Língua - sem ela, dificilmente você vai conseguir um bom emprego, por mais qualificado que seja.
  • Planejamento da recolocação: saber se há necessidade de revalidação do diploma, e como pode ser feita; custos, carga horária, etc. No Canadá existem poucos cursos que possibilitam trabalhar simultaneamente, em geral, são full time;
  • Recursos: sem dinheiro para se manter, você acaba pegando qualquer emprego. E fica cada vez mais difícil ter espaço, tanto financeira quanto psicologicamente, para arriscar e investir em você mesmo.
Mas como tudo na vida, imigrar é uma aposta. Cabe a nós termos a melhor mão possível, pesquisando, se preparando, mas infelizmente é preciso mais dinheiro do que o consulado exige para "comprar tempo" depois da chegada. No meu caso, com esposa e duas filhas, isso foi essencial, apesar de eu ter tido bastante sorte e encontrado um emprego relativamente rápido. Acho complicado tanta gente optar pelo processo de Quebec por não precisar comprovar tantos recursos, sendo que mesmo o que o processo federal pede é o mínimo para sobreviver por poucos meses sem emprego.

Minha profissão (publicidade) não é regulamentada em BC, então pude trabalhar logo de início. Minha esposa, dentista, está se preparando para fazer o teste para a revalidação do diploma. É um processo relativamente longo (2 anos) e caro, que no final vai valer a pena. Mas ela só teve esta opção porque já estou trabalhando e temos uma reserva para pagar o custo da faculdade.

Monday, March 24, 2008

Nossa chegada a Vancouver

Vim para Vancouver 1 mês antes da minha família para resolver casa, carro, etc. Queria que as crianças chegassem com alguma estrutura, para que a chegada fosse a mais tranqüila possível.

Quando você sai do aeroporto, você tem uma mistura de emoções... "cheguei, finalmente!", "uma nova vida me espera aqui", mas principalmente "caramba, que que eu faço agora???". Acho que é aí que cai a ficha que agora não tem mais Maria João, consulado pra reclamar, prazo pra esperar, lista de discussão para desabafar... agora tudo depende só de você, o "Canadá" já fez sua parte.

Cheguei de manhã, peguei um táxi, e o motorista (indiano), não parava de falar. Mas eu só tinha olhos para as árvores, as montanhas e para a cidade que elegi como minha futura casa, grato por estar ali. Já conhecia Toronto, Montreal e Quebec, mas decidimos por Vancouver mesmo sem conhecê-la. E assim que cheguei soube que tinha tomado a decisão correta. Hoje não consigo me ver morando em outro lugar.

Através de uma recomendação da Fernanda Fatio (pela internet), já havia reservado um hotel, onde a tarifa mensal era muito mais em conta. Deixei o mês pago (o mês fechado custava a mesma coisa que 15 dias avulsos). Ter pra onde ir assim que chega é muito importante pra não ficar zanzando com um monte de malas pela cidade, psicologicamente faz muita diferença, você não se sente tão desprevenido. A primeira coisa que sempre faço em um lugar novo é dar uma boa volta a pé, para conhecer as redondezas. É engraçado passar por estes lugares hoje, depois de 10 meses. Sua visão do lugar muda muito.

Nas primeiras duas semanas eu tirei meus documentos, comprei o carro, e me informei do processo de matrícula das minhas filhas na escola e no daycare. A procura do daycare também foi bastante complicada, demorei um tempo para encontrar uma vaga. Existem daycares com filas de espera de dois (!) anos.

Quando você chega, é tudo novo, e às vezes você demora três dias pra tirar um documento que sai na hora, seja por falta de alguma documentação, ou por não saber exatamente onde ir. Andei muito no início (além de não saber o itinerário dos ônibus, queria conhecer a cidade), a decisão de não vir com a família neste período foi acertada para mim. Quando eles chegaram, eu já tinha uma boa idéia do que fazer, já que elas tinham que passar pelo mesmo processo de obtenção dos documentos.

O mercado imobiliário em Vancouver é muito ativo, demorei quase 3 semanas para encontrar o apartamento ideal, pois queria um school district específico (e mesmo assim por um valor maior do que queria pagar). Os apartamentos em geral vêm com geladeira, fogão, microondas, lava-louças, lavadora e secadora de roupas. É bem mais fácil se não tiver necessidade de uma área específica. Amigos meus alugaram um apartamento em downtown em poucos dias.

Três semanas depois, fui para Orlando me encontrar com a família. Passamos 10 dias muito bacanas na Disney e Epcot. Foi muito importante também para minhas filhas, que estavam bem tristes por deixar avós e amigas no Brasil.

Com o dinheiro da venda de nossas coisas no Brasil compramos a maioria da mobília e eletrodomésticos. A maioria foi na meca dos imigrantes, a Ikea, rsrsrs.

Fui em um centro de imigrantes uma vez, mas para mim não foi de muita ajuda não. Já tinha meu portfólio na net e na minha área foi o que fez a diferença, juntamente com a entrevista. Minha vaga eu consegui pelo Craigslist.

Aos poucos estamos fazendo amigos, alguns brasileiros, alguns imigrantes também, e outros canadenses. Ter filhos ajuda bastante, você acaba conhecendo muitos pais que têm o mesmo perfil e faixa etária. Mas a gente tem que se esforçar, correr atrás para não ficar isolado.

Língua

Acho que a coisa mais importante para quem imigra é a língua, e no caso de Vancouver, o inglês. Eu estudei inglês desde os 12 anos, me considero razoavelmente fluente, mas demora um tempo até você absorver as expressões e os diferentes sotaques.

Você não precisa ter um inglês perfeito para conseguir trabalhar, mas tem que se fazer entender e compreender o que te dizem. Logicamente que quanto mais alta a posição, mais é exigido, pois você tem que encontrar e discutir com clientes, fornecedores, prestadores de serviço, funcionários. E é frustrante querer dizer alguma coisa e não conseguir, ou a frase sair como se uma criança de 12 anos estivesse falando. Sabe quando tinha aquele "gringo" na escola e todo mundo achava que ele era meio bobo, porque não falava português direito? Pois é.

O lado bom é que os canadenses estão acostumados com vários sotaques diferentes, e facilitam ao máximo. Vejo muito mais boa vontade em entender do que nos EUA, por exemplo. Acho que o mais difícil é entender o inglês de certas etnias, japoneses, indianos, e chineses chegados há pouco tempo são bem difíceis de entender. Mas os brasileiros também têm seu sotaque próprio, e deve ser difícil para eles também.

Para quem ainda não fez o IELTS: o exame não é um bicho de sete cabeças, mas você TEM que se preparar fazendo simulados. Se você chegar sem saber como o exame funciona, suas chances são mínimas. Mesmo para nativos é difícil sem estudo, pelo pouco tempo e o modo que o teste é estruturado. Mas fazendo aulas ou os simulados (de acordo com seu nível de inglês), não há grandes dificuldades. Não tem muitas "pegadinhas", o que eles querem é avaliar seu nível de fluência.

Em SP, no British Council eles fornecem uma lista dos avaliadores que dão aulas particulares. Eu fiz 3 meses, e foi ótimo para treinar redação e desenferrujar o speaking. No exame, vi muita gente completamente desorientada por não saber como era o exame.

Aliás, nos EUA e Canadá, ninguém faz um exame sem ter estudado muito especificamente para ele, fazendo simulados e/ou apostilas.

Sunday, March 23, 2008

Comida

Bom, este assunto já deu pano pra manga na lista de discussão do Yahoo... uma coisa que posso dizer com certeza é: assim como você deve vir aberto para novos costumes, venha também aberto para novos sabores. É claro que dá para tentar adaptar a maioria dos ingredientes daqui para a cozinha brasileira, se esforçando dá pra encontrar quase tudo. Mas nunca será a mesma coisa, o resultado final nunca fica exatamente igual na maioria dos pratos.

Dá para comer muito bem e de forma saudável aqui sim, ninguém precisa ficar limitado a fast food. Carne é proporcionalmente cara aqui (peito de frango é tão caro quanto carne bovina), mas peixes e frutos do mar são mais baratos. Dá para comprar saladas e folhas ótimas no Costco e em supermercados. Muitas já vêm pré-lavadas e são bem práticas.

Se for comer fora, aqui em Vancouver temos uma infinidade de restaurantes - japoneses, chineses, gregos, indianos, italianos, coreanos, tailandeses, portugueses. É a vantagem de ter muitos imigrantes... e a maioria é barata, depois que você está ganhando em dólares.

Um casal amigo que chegou aqui há pouco tempo reclamava que só estavam comendo fast food. Fomos com eles a um japonês, e alguns pratos depois (a culinária japonesa vai muito além de sushi e sashimi) eles começaram a ir pelo menos 3 vezes por semana. O curioso é que nunca tinham experimentado a culinária japonesa!

Um lugar que sempre vamos é o Stepho's, um grego que sempre tem fila na porta. Vale a espera, o calamari dinner (lula empanada) é ótimo, bonito e barato.

O duro é escolher entre tantas opções, e a gente tende a repetir os que mais gostamos. Mas fast food é uma coisa muito rara para nós. Mesmo as meninas, quando perguntamos onde querem comer já começam o coro: sushi! sushi!

Tuesday, March 18, 2008

Qualidade de vida

Um dos mais citados motivos para imigrar é a tal qualidade de vida. Mas o que significa isso?

Antes de imigrar, o que a gente sabe é que quer se livrar dos problemas que assolam o Brasil, como a corrupção, a violência, os valores morais distorcidos, a dificuldade de ganhar a vida. Queremos um lugar melhor para viver e para criar nossos filhos.

Para muitos, o aspecto financeiro fala mais alto: poder ter uma TV plana, um carro zero, poder planejar a compra do seu apartamento, esquiar nas férias. Ou a possibilidade de crescer profissionalmente em um mercado mais estável. Para outros, a segurança de viver em um país com baixa criminalidade e corrupção, onde as leis são obedecidas.

O que acontece é que a grande maioria de nós imigra sem saber muito o que nos aguarda nas terras do norte. Esperamos uma vida melhor, pensando muito mais nos problemas que vamos deixar para trás, do que no que vem pela frente. E uma vez no avião, os problemas do Brasil ficam pra trás, mas isso não significa que automaticamente teremos uma vida melhor.

Sim, o financeiro é fundamental. Se não tivermos emprego e renda, não tem sentido falar em qualidade de vida. Mas não é o bastante para uma vida plena e feliz para quem imigra. Com a imigração, alguns problemas inerentes a ela aparecem: a língua, o desconhecimento da estrutura social e do contexto histórico, os costumes, a comida, a falta dos amigos e da família, a requalificação social e profissional. A falta de referências que no Brasil já tínhamos desenvolvido ao longo da vida (médicos, serviços, até seu restaurante preferido...). Isso tudo pode afetar o psicológico e a auto-estima.

A tão desejada qualidade de vida não vem sozinha. Sim, muitos dos problemas estruturais do Brasil não existem aqui, mas outros problemas existem, e quem chega com uma visão estereotipada acaba se decepcionando.

Sunday, March 16, 2008

Relações

Desde que chegamos, tivemos o prazer de conhecer muita gente. Brasileiros, estrangeiros, canadenses. Cada um com suas peculiaridades e culturas diferentes.

Infelizmente posso dizer que até agora, só encontramos um ou dois casais que podemos dizer estarem bem adaptados. Ouvimos reclamações de muitos, e sentimos ansiedade, angústia e até mesmo tristeza de alguns. A situação financeira é motivo em alguns casos, mas não na maioria.

Sim, a adaptação à uma nova cultura é difícil e trabalhosa. Exige uma cabeça aberta para costumes que são diferentes dos nossos, e que nem sempre fazem sentido à primeira vista. Exige tolerância ao caldeirão de culturas que é o Canadá. Exige humildade, pois somos nós quem estamos nos juntando a uma sociedade já estabelecida, e para saber que somos nós que temos que nos adaptar à ela, e não o contrário.

Muita gente vem para o Canadá mas continua com a cabeça no Brasil. Convive somente com brasileiros, sem perceber que está limitando suas possibilidades de adaptação e crescimento. O pior é que você acaba sem pátria: não está adaptado ao lugar onde vive, mas também não consegue mais voltar para o Brasil e seus problemas.

Novos amigos

Hoje almoçamos com o Márcio e a Viviane, recém chegados do Rio. Ele é um dos poucos privilegiados a conseguir vir em pouco tempo com um work permit, podendo aplicar para a residência permanente daqui.

Muita gente pergunta sobre como conseguir isso. Infelizmente, é para poucos, pois você tem que ser muito bom no que faz para que a empresa se disponha a custear e se responsabilizar por você. Além disso, a empresa tem que provar que não existe nenhum residente ou canadense apto a preencher a sua vaga. Não basta ter uma oferta de emprego de balconista e achar que pode entrar no Canadá.

Bemvindos a Vancouver!

Primeiro post!

Logo que recebemos o pedido dos exames médicos, em março de 2007, ensaiei um blog sobre imigração, e a experiência de imigrar. Com a correria da partida e da chegada, o blog nasceu morto. Também não sentia que ele acrescentaria muito aos muitos (e melhores) blogs sobre o processo de imigração que já existem.

Depois de 10 meses de Canadá, acho que encontrei um motivo maior para ter um blog. Além da batalha de conseguir se recolocar, alugar apartamento, existe uma questão muito pouco discutida: a adaptação à nova cultura, e as relações entre brasileiros, imigrantes e canadenses. E claro, ajudar aos que estão se preparando para vir a ter as expectativas corretas em relação ao Canadá, mais especificamente Vancouver, a cidade que nos recebeu de braços abertos.

Espero que este espaço seja proveitoso para todos!